Atendimento de Urgência Lesões Cutâneas

ATENDIMENTO DE URGÊNCIA
  LESÕES CUTÂNEAS


PRIMEIROS  SOCORROS  NO
Tratamento  de  Feridas

*Abordaremos medidas de atendimento de urgência no tratamento de feridas cutâneas mais freqüentes.

A conduta correta consiste em lavar o ferimento com água, limpa e na temperatura ambiente. Pode ser usada gaze estéril ou pano limpo para cobrir o ferimento. A lavagem com sabão, às vezes, pode ser prejudicial. Sem critério médico, a aplicação de pomada deve ser evitada.

É importante não utilizar produto que possa agredir o tecido lesionado, como, por exemplo, substâncias difundidas na medicina popular: pasta de dente, borra de café, álcool etc.

É bom lembrar que lesões complexas devem ser tratadas em ambiente hospitalar, por equipe profissional competente.

Corpos estranhos que estão penetrando a vítima, independente do tamanho e localização, devem ser mantidos no lugar e somente removidos no hospital, por profissional capacitado. A remoção de objeto que atravessa parte ou todo o corpo da vítima pode causar sua morte, pois há a possibilidade de que o próprio corpo estranho esteja estancando sangramento interno.

 *Fonte bibliográfica:
CANDIDO LC: Nova abordagem no tratamento de feridas.
São Paulo: Editora SENAC-SP, 2001.
 

Veja

Controvérsias no tratamento de feridas
- Curativo seco x curativo úmido
- Limpeza com solução fisiológica x limpeza mecânica
- Anti-sépticos em ferida cutânea aberta

 

DEFINIÇÃO DE FERIMENTO CUTÂNEO

Ferimento cutâneo é a perda da continuidade (integridade) da pele.

De acordo com sua dimensão poderá deixar o organismo vulnerável à infecção, desidratação e perda de calor.

O ferimento cutâneo pode ser classificado como: 
ABERTO: existe quebra de continuidade da pele ou da mucosa.

FECHADO: a integridade da pele é mantida, podendo provocar, por exemplo, hematoma, seroma etc.

FERIMENTO CUTÂNEO ABERTO

O ferimento cutâneo aberto podem ser classificado como:

ABRASÃO: trata-se de escoriação superficial. Esse ferimento, geralmente, é causado pela passagem da pele em cima de uma superfície rígida, como, por exemplo, o asfalto.

INCISÃO: trata-se de lesão provocada por objeto cortante, por exemplo, faca ou vidro. De acordo com a sua profundidade poderá ocorrer intenso sangramento.

LACERAÇÃO: o ferimento é irregular, dilacera a pele e outros tecidos moles. Ocorre por ação de força externa exercida sobre o corpo. A destruição tecidual pode ser acentuada, favorecendo a necrose e contaminação.

LESÃO PUNTIFORME: decorre da penetração de objeto pontiagudo na pele, como, por exemplo, prego ou projétil de fogo. O sangramento externo, geralmente, é pequeno, porém o dano interno pode ser grave. Quando profundo, o risco de tétano é maior.

1. FERIDA SANGUINOLENTA

É fundamental que o tratamento da ferida cutânea sanguinolenta seja realizado no atendimento de urgência. 

Em lesões graves o choque hipovolêmico, com perda de consciência da vítima, pode ocorrer rapidamente.

Existem várias técnicas para estancar o sangramento:
- compressão direta sobre a ferida,
- elevação do membro lesionado,
- compressão sobre a artéria proximal do membro lesionado, 
- em casos excepcionais, o emprego criterioso de garrote
hemostático.

Compressão Direta
sobre a Ferida

Em caso de urgência, poderá ser realizada compressão direta sobre o local da ferida, para controlar a perda sangüínea.

Pode ser utilizada compressa, gaze ou pano, com pressão das mãos ou dedos. 

O curativo realizado para a compressão, quando banhado pelo sangue, não deve ser trocado, pois o acúmulo de coágulos sanguíneos (fator de coagulação) pode auxiliar no controle da hemorragia. Caso haja necessidade de mais gazes, essas devem ser acrescentadas sobre o curativo já existente e, a compressão, mantida sobre a ferida. Quando necessário, pode ser realizada bandagem compressiva da região traumatizada. 

Quando o paciente está consciente e auto-suficiente, ele mesmo poderá exercer pressão sobre a ferida.

 Elevação do Membro

Na vigência de sangramento importante os membros, cabeça ou pescoço traumatizados, podem ser elevados acima do nível do coração da vítima.

Essa posição usa a força da gravidade para reduzir a pressão sangüínea e diminuir o sangramento na região lesionada.

Durante esse procedimento, a pressão direta sobre a ferida deve ser mantida.

Compressão sobre a Artéria Proximal

Na ferida sanguinolenta, extensa e localizada nos membros, em que nem a compressão direta da lesão nem a elevação do membro foram suficientes para controlar o sangramento, pode ser necessária a compressão direta sobre a ramificação arterial responsável pela vascularização da extremidade traumatizada.

No entanto, a pressão sobre a artéria não substitui o uso concomitante da pressão direta sobre o ferimento e elevação da extremidade do membro, mas, sim, é procedimento adicional para controlar o sangramento.

Inicialmente, a pressão sobre a artéria deve ser mantida por aproximadamente 10 minutos. Caso o ferimento continue a sangrar, a pressão sobre a artéria deverá ser mantida.

Por exemplo, em ferimento sanguinolento no membro superior, deve ser efetuada compressão na artéria braquial, responsável pela irrigação sangüínea desse membro. Ela é localizada na parte interna do terço médio do braço, logo atrás do músculo bíceps.

Outro exemplo, pode ser o sangramento localizado no membro inferior. A compressão deve ser realizada na artéria femoral. Essa artéria pode ser localizada tendo como referências anatômicas a parte saliente lateral do osso da bacia (crista ilíaca) e o púbis. Na metade do trajeto entre esses duas estruturas encontra-se o ponto de compressão.

Uso de Garrote Hemostático

O garrote ou torniquete hemostático é utilizado no atendimento de urgência de feridas traumáticas sanguinolentas em casos excepcionais.

Não deve ser utilizado em acidentes com animais peçonhentos, em particular ofídicos, sob o risco de acentuar a ação do veneno. 

É aplicado no segmento do membro traumatizado na situação em que o sangramento não cessou após a compressão direta sobre a ferida, elevação do membro e compressão  arterial proximal.

O seu emprego deve ser criterioso, pois interrompe a circulação sanguínea do membro, no segmento distal a sua aplicação, podendo, inclusive, provocar a necrose.

O garrote deve ser posicionado acima do ferimento. Para ser efetivo, deve ter no mínimo  5cm de largura. 

Pode a sua realização pode ser utilizado retalho de roupa ou o cinto da calça.

A cada duas horas, o garrote deve ser afrouxado por 15 minutos, permitindo a perfusão sangüínea do membro. É interessante anotar o horário de sua aplicação e momentos de reperfusão sangüínea do membro.

O garrote deve ser monitorizado e visível a qualquer pessoa em todo tempo de sua aplicação

Veja
LESÃO TRAUMÁTICA

Lesão Traumática

2. QUEIMADURA

A queimadura é lesão cutânea, que pode ser causada por vários agentes: calor, agentes químicos, radiação etc. 

Esse tipo de lesão pode deixar o organismo exposto ao meio ambiente, favorecendo a perda de líquidos e calor.

O objetivo de primeiros socorros em queimadura é diminuir a dor, perda de líquidos e calor, prevenir contaminação da ferida (infecção) e evitar o choque.

Pode ser classificada segundo o grau de destruição celular, de acordo com a profundidade e superfície corpórea atingida. Às vezes, numa mesma região, podem existir distintos graus de queimadura.

CLASSIFICAÇÃO
Segundo o grau de
Destruição Celular

   1. Primeiro grau ou superficial: É caracterizada por eritema e dor. Um exemplo é a exposição solar excessiva, queimadura por água-viva.

   2. Segundo grau:
- segundo grau superficial: Envolve a epiderme e derme parcial. É identificada pela formação de bolhas. A lesão é dolorosa. Agente comum: líquidos quentes.

- segundo grau profundo - Envolve epiderme e derme. Ocorre a formação de tecido necrótico-fibrinoso. É dolorosa. Pode deixar
seqüelas cicatriciais.

   3. Terceiro grau ou profunda:
Atinge todos os elementos da pele, podendo envolver também planos anatômicos profundos. Não apresenta dor, porque a necrose é total, inclusive nos terminais nervosos.

TRATAMENTO DE QUEIMADURA NA URGÊNCIA

O tratamento de queimaduras de 1º e 2º graus na urgência (ambiente domiciliar) tem por objetivo aliviar a dor, banhando a região com água fria (não gelada). Nenhum produto deve ser colocado sobre a área queimada e as bolhas não devem ser rompidas. O paciente deve ser encaminhado ao serviço especializado.

A queimaduras de 1º grau provocada por água-viva, medusa ou caravela é originada pelo contato direto das membranas do invertebrado com a superfície cutânea. Esse contato casual libera substâncias químicas tóxicas, que podem provocar sensações dolorosas, urticantes, pruriginosas e edema local.
Tentáculos ou partes das membranas do animal podem permanecer aderidos a pele; estes devem ser retirados com cuidado sem o emprego da mão nua, sob o risco de queimar, durante esse procedimento, também os dedos do socorrista ou acidentado. Para tal, utilize o auxílio de algum artefato plástico ou de madeira.
Lave o local queimado, abundantemente, com a água do mar. Não empregue água doce.
No intuito de neutralizar as substâncias tóxicas, amenizando os sintomas da queimadura local, pode ser aplicado vinagre (ácido acético) diretamente sobre a lesão ou através do uso de compressas de algodão.

Na urgência, tratando-se de queimadura com substância química, geralmente de 2° grau, o local lesionado deve ser lavado, em abundância, com água, por 5 minutos ou mais.

Tratando-se de queimadura de 3º grau, o paciente deve ser encaminhado ao serviço especializado.

Veja
QUEIMADURA

Queimadura

Queimadura: Curativo com
Pele de Rã

 

3. MORDEDURA DE CÃO

No tratamento da ferida traumática, causada por mordedura de animal, os procedimentos realizados no atendimento de urgência são relevantes.

É fundamental a profilaxia anti-rábica, especialmente se se tratar de animal silvestre, e verificação da vacinação anti-rábica do animal.

A lesão deve ser lavada com água limpa, em abundância.

Veja
MORDEDURA DE CÃO

Mordedura de Cão
 

 4. PICADA DE ANIMAL PEÇONHENTO 

No atendimento de urgência de lesão cutânea provocada por acidente com animal peçonhento, devem ser realizados os seguintes procedimentos:
- lavagem abundante da ferida com água limpa;
- manter o paciente hidratado, fazendo-o beber água, e em repouso;
- encaminhar o paciente ao serviço médico e, se possível, levar o animal peçonhento para identificação.

Em acidente ofídico é contra-indicado:
- uso de garrote ou torniquete hemostático;
- provocar incisão ou perfuração cutânea nas áreas adjacentes ao local da picada;
- sugar o veneno do local da ferida.

Veja
ANIMAL PEÇONHENTO

Lesões Provocadas por
Animais Peçonhentos

 

VEJA TAMBÉM

Controvérsias no tratamento
de feridas

Fatores que interferem na
cicatrização


Aspectos nutricionais do
portador de feridas


Aspectos psicológicos do
portador de feridas

 

VEJA AINDA

CURATIVOS e COBERTURAS
     -
Derivado de óleo vegetal
     -
Derivado da mamona
     - Mamão Verde - Papaína
     -
Colagenase
     - Fibrinolisina 
     -
Albumina - Clara do ovo
     -
Açúcar
     -
Babosa - Aloe vera


FITOTERAPIA
Plantas Medicinais


Oxigenoterapia
Hiperbárica

PARA SABER MAIS...

Consulte o Livro do Feridólogo - Tratamento clínico-cirúrgico de feridas cutâneas agudas e crônicas do Prof. Dr. Luiz Claudio Candido (autor e editor), dezembro 2006, Santos-SP.